O dia 31 de Maio é o Dia Mundial
Sem Tabaco.
Este dia tem um forte significado para mim. Como fumador em tratamento há mais de dezassete anos, tem sido uma luta constante, diária e persistente. De um lado o vício, envolvente, reconfortante, dependente, aconchegante, cheio de memórias ligadas aos 25 anos de fumo. Do outro lado a dolorosa realidade dos malefícios de pormos à boca veneno legalizado e altamente socializado. Os rituais que faltam, os lugares que lembram o fumo, as ações que “casam” com o tabaco, tudo isto compõe e complementa o vício social e o prazer de fumar.
A dor física é dolorosa durante
alguns dias e o desprazer de não fumar ficará para o resto da vida. Durante
anos (mais de dez) sonhava que já fumava outra vez e, quando não acordava pelo
transtorno causado no sonho, ficava com o sono transtornado e tumultuoso. Os
sonhos variavam. Por vezes sonhava que já fumava outra vez e reagia durante o
sonho com incredulidade, revolta ou zanga. Outras vezes, sem chegar a acordar
completamente, tomava consciência, dentro da inconsciência do sonho, que estava
a sonhar e a coisa aquietava. Outras ainda encarava a coisa de forma zen,
embora sempre admirado pelo facto de já fumar outra vez, como se fosse a coisa
mais natural do mundo.
Passados mais de dezassete anos
olho para trás e, apesar do esforço despendido, posso afirmar que valeu a pena.
O malefício que causamos a nós e aos outros é incompreensível. Só o prazer de
fumar (e o desprazer e medo) e a dificuldade em deixar, faz com que os
fumadores aceitem e encarem o vício de fumar como a coisa mais natural do mundo,
contornando com sucessivas desculpas.
Uma coisa te garanto. Se tiveres
que deixar de fumar e quiseres, consegues. Se tiveres que escolher entre o
tabaco ou um interesse maior, tenho a certeza que saberás escolher.
Para um fumador em tratamento, é perfeitamente
possível viver sem fumar.