Hoje a caminho do trabalho vi espaços da estrada vazios de
gente recolhida. Notei a falta de movimento nos cruzamentos da vida. As ruas
desertas de pessoas e bens, reflexo do medo contido e da incerteza instalada.
Hoje de manhã a caminho do trabalho, notei que a falta da
viatura mal estacionada antes da passadeira na Várzea de Sintra, das pessoas a
caminharem na estrada e da esplanada ocupada no café da esquina, me fizeram
falta.
Hoje de manhã a caminho do trabalho, notei mais os
pormenores do percurso, os detalhes da rua e a falta do movimento das pessoas.
Afinal sou, certamente, um animal social.
Hoje a caminho do trabalho tomei consciência de que o ar que
respiro não é um dado adquirido gratuito, que o chão que piso tem um preço a
pagar e a minha liberdade vale mais do que eu realmente pensava.
Hoje a caminho do trabalho, valorizei muito a rádio que ouvia,
o ar que respirava, a roupa que vestia e a liberdade de me poder deslocar livremente,
de casa para o trabalho.
Hoje a caminho do trabalho, valorizei muito mais a chuva que
caíra na madrugada, ajudando a limpar, do ar e da mente, uma neblina sobrecarregada
de partículas poluentes que nos vai intoxicando.
Hoje a caminho do trabalho, senti que estava vivo e
agradeci, não sei a quem ou a quê, porque ainda podia ir hoje, a caminho do
trabalho.
CCamacho-20-03-2020
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