domingo, 9 de fevereiro de 2020

7º Capítulo - Diário - Viagem China



7º Capítulo - Diário

19 de Março de 2005 - Sábado

Decorria a feira “China International Furniture Fair Guangzhou” que foi, de resto, o principal motivo da minha viagem à China.Fui de manhã cedo para a feira, de táxi, após o pequeno-almoço farto no Guangdong Hotel. Mais uma vez recorri a um print da net para indicar ao taxista o destino pretendido.A Feira tinha as portas fechadas e apenas entravam as pessoas credenciadas, como funcionários e expositores das empresas presentes.As demonstrações de força são frequentes. Tudo é feito com um autoritarismo exacerbado. Talvez pelo complexo de estatura, pelo regime totalitário das últimas décadas ou até pela sua forma de ser, os chineses não perdem uma oportunidade de demonstrar que não brincam. No Ocidente é normal a palavra ser suficiente para desmotivar alguém que pretende ir para além do que pode ou deve, mas os chineses fazem questão de demonstrar a sua firmeza e autoridade quando o mesmo se passa em relação, por exemplo, a uma simples entrada antes da hora no recinto da feira. “Maria vai com as outras” e o “je”, não me apercebendo do facto, entrava no meio da maralha para entrar no recinto. Entrada barrada por três indígenas perfilados com cara de mau, um deles com a palma da mão encostada ao peito deste humilde servidor. Quase como bater numa parede e estancar. Apanhei um cagaço.Ainda me lembrei que talvez não tivesse cumprido todas as regras chinesas básicas e merecesse xelindró sem julgamento, aplicado de imediato por guardas da feira de Guangzhou, que ali estavam para punir ocidentais prevaricadores da lei e da ordem reinantes. Porra!!!Passado o cagaço e meia hora, lá entrei no recinto e comecei a visita pela vasta área de exposição. Brutal!!! Um mundo. Grande, com muito móvel e barato. Barato. Não me admiro que em Portugal a indústria esteja em recessão. A China produz tudo muito mais barato e com rapidez. Não conseguimos competir de igual para igual com países de mão-de-obra barata, sem regalias, sem horário de trabalho, sem dias de férias, sem sindicatos, em suma, com tudo o que a Ocidente não é possível (e bem). Cansei-me na feira. Um dia inteiro a ver, pedir preços, fotografar, analisar, etc.Saí da feira pouco antes desta fechar e nem metade tinha visitado. Cansado. Na volta para o hotel, os taxistas vendo os ocidentais aos molhos e desorientados, cobravam não ao taxímetro mas um preço fixo (o dobro ou triplo do custo da mesma viagem em sentido inverso) para levar de volta a manada aos hotéis. Puta que os pariu. Um manguito. Assisti a uma zanga tremenda de um chinês envergonhado com este comportamento, entrando em acesa discussão com um grupo. No entender dele era completamento vergonhoso aproveitarem-se das pessoas e não abonava nada na nova imagem da China moderna. Algo como a anedota que fala de uma companhia de aviação que cobrava apenas um dólar para levantar voo. O pior é que omitia que para aterrar cobrava 5.000 dólares.Entrei no moderno metro à toa, sem saber como pagar ou entrar. Lá mostrei o cartão do hotel a uma alma caridosa bem fardada que, em inglês mal amanhado, me disse que tinha que sair aqui, ir por ali, descer acolá, etc e tal. Pois, Pois.Decidido a sair numa das estações mais centrais e aí apanhar um táxi para finalmente me levar ao meu destino, saio e eis-me numa rua familiar, com árvores nos passeios e um prédio cor-de-rosa bem alto, mesmo à minha frente. Estava a 200 metros do Hotel Guangdong, o meu destino.Após um duche reconfortante vou à procura de uma tasca onde possa recompor o estômago da comida da treta ingerida nos restaurantes fast-food do recinto da feira. Maravilha. Aventurei-me um pouco mais e quando dei por mim estava numa zona de comida de rua. Quando vejo, actualmente, os programas sobre culinária de rua como o Anthony Bourdain, lembro-me de uma ruas de Guangzhou onde andei a picar espetadas grelhadas, vegetais assados e mais umas quantas coisas que não consegui perceber o que era.Café procura-se. Mais uma vez vi nessa zona muitos africanos muçulmanos, com os seus trajes característicos. Provavelmente a mesquita seria perto. Esta comunidade é consumidora de café e seria normal existir nas redondezas algum estabelecimento com produtos específicos desta comunidade. Népia. Nada. Uma semana sem beber um café em condições já dá para desesperar. De regresso ao hotel por um outro trajecto, reparei num centro comercial pejado de telemóveis. Milhares e milhares. Entrei e eis que, no meio daquela confusão de telemóveis, reparo numa máquina de café, semelhante às que se vêm hoje um pouco por todo o lado, para serviço aos clientes. Fiz-me interessado nos telemóveis a piscar o olho ao café. É desta é que é. Convidei o senhor que me atendeu a oferecer-me um café. Espectáculo. Parece que adivinhou. Ainda não tinha acabado bem a frase já este me estendia um copo a fumegar. Este chineses são do caraças!!! Ninguém os bate em termos de serviço, de dedicação, de empenho. Para eles o trabalho é um direito e não um dever. O homem estava ali para fazer com que ocidentais que procuram café fossem atendidos da melhor forma possível, sem margem para dívidas. Pois, a fumegar, sim. O chá, de jasmim, estava espectacular, talvez um pouco quente. Com o rabo entre as pernas lá fui de regresso ao hotel beber cariocazito da ordem, desta vez tirado em chávena grande, já que o funcionário do bar resolveu que eu tinha cara de quem bebia muita quantidade.

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Continua...


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