segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

6º Capítulo - Diário - Viagem China



6º Capítulo - Diário - Viagem China 

18 de Março de 2005 - Sexta Feira


O voo para Guangzhou é às 10.45 da manhã, quero lá estar uma hora e meia antes. Levanto-me às seis e meia, tomo o pequeno-almoço às sete e meia. Antes tenho que colocar no papel alguns devaneios mentais que me vão assolando a ideia. O isolamento no Oriente está-me a dar cabo dos neurónios. A falta de comunicação em português e a ausência de pessoas que me são próximas faz mossa.
Táxi para o aeroporto e voo 5 estrelas.
A companhia que efectuou o transporte é uma das melhores em que alguma vez andei. China Eastern, salvo erro. Avião novinho em folha, hospedeiras novinhas em folha, comida boa qb, confortável, rápido, eficiente, sem objecções, sem atrasos.
Ningbo tem graves problemas de poluição, como quase todas as áreas urbanas chinesas, mas salta à vista a forma desordenada e caótica como foi crescendo, sem o mínimo respeito pela natureza e pelos seres humanos que aqui (sobre) vivem. Na esperança de “tapar o sol com a peneira”, o governo chinês lá vai promovendo operações de cosmética nos principais hotéis das cidades, sitio privilegiado de contacto com os ocidentais que lá se deslocam, na esperança de dar uma imagem positiva desta nova China capitalista, que tresanda a dinheiro, onde todos o querem fazer muito e depressa.
Chegado, já com hospedagem marcada pela Joanna Zhu, fiz o check-in num excelente hotel de quatro estrelas numa zona central de Guangzhou, ou Cantão, capital de GuangDong, uma das provincias mais a sul do território chinês, contíguo a Hong-Kong.
GuangDong Hotel, nem mais nem menos. Onde lavar três camisas, três polos, seis pares de meias, seis cuecas e 2 pares de calças custaram a módica quantia de 75 RMB, ou seja, 7,5 €. Tudo devidamente embalado , dobrado e engomado individualmente. Vale a pena ir à China só pela lavagem da roupa.
Após saber que a China é um país onde se pode andar na maior parte dos sítios sem problemas de assaltos ou de qualquer outro tipo de incómodo, aventurei-me por ruas que quase tenho a certeza nunca terem sido visitadas por ocidentais, por estarem em lugares tão recônditos e inacessíveis. Frequentemente provocava expressões de espanto por parte dos idosos e crianças que encaravam comigo de surpresa. “Que raio de bicho é este ?” pareciam dizer as faces interrogadas que a idade não tinha habilidade para disfarçar. Frequentemente reparei em crianças que, ao encarar comigo, procuravam protecção junto das mães, num misto de medo e indisfarçável interrogação.
Os mercados de carne crua não se pode lá entrar, tal é o cheiro pestilento que emanam. O mais próximo que consegui foi a porta. Creio ter entendido que na china existe um mercado de produtos secos muito forte, onde peixe, insectos, carne e toda uma panóplia de comida seca é vendida a peso, com os cartuxos de papel pardo que antigamente se usavam nas mercearias. Estão a granel em sacos de ráfia e serapilheira expostos no chão e em prateleiras nas lojas da especialidade. Os mercados de vegetais são dos mais completos que alguma vez vi. É impressionante a forma como os preparam, chegando a ser duma meticulosidade impressionante a forma como embalam e organizam os molhos de vegetais. Os peixes são comercializados vivos, mantidos em tanques oxigenados por centenas de metros de tubo ligados a pequenos compressores que não se cansam de deitar “bolhinhas” para manter a água em boas condições. Após ter feito a entrada no hotel fui fazer um reconhecimento à área envolvente.
Guangzhou é a capital da província de Guangdong, no sul da China. É uma cidade com mais de 5 milhões de habitantes. Sendo uma das cidades com elevado índice de crescimento, necessita de um constante fluxo de mão-de-obra oriundo de zonas mais desfavorecidas, como as províncias do interior. Está a rebentar pelas costuras. Também em Guangzhou se faz a tradicional Canton Fair, uma das feiras internacionais mais conhecidas em todo o mundo. Para essa altura do ano (normalmente Abril) os hotéis têm marcações de um ano para o outro e a preços proibitivos.
Recaí no barbeiro, só que em vez de cortar, optei pela lavagem e massagem. Espectacular!!!
Estes dias muito movimentados cansam. Após o jantar numa tasca onde pedi algo pela foto da ementa, rua, à procura de café. No Mcdonalds levo com a água choca. No KFC idem, idem. Será que estes gajos não têm Starbucks? Bem que procurei, mas nada.
Regressei ao hotel e optei por beber um expresso à maneira do funcionário do bar. Já estou por tudo. O que vier, morre. Coração ao largo. Mas este hotel é mesmo bom. Para além do barman me entender, percebeu também o que eu queria e, dentro das possibilidades, lá bebi um “cariocazito” antes de regressar ao quarto.

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Continua.....

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