5º Capítulo - Diário - Viagem China
17 de Março de 2005 Quinta-Feira
17 de Março de 2005 Quinta-Feira
Levantei-me às 6.30. Apetece-me escrever umas coisas. Às sete e
meia já estava a tomar o pequeno-almoço no enorme restaurante do Hotel.
Novamente excelente. Deliciei-me com couves temperadas, salsichas, pão, café
(água choca), sumo de laranja e mais uma panóplia de coisas que não
identifiquei mas bastante boas. No sul da China é habitual dizer que se come
tudo o que tenha quatro pernas, excepto uma mesa de cozinha.
Na China, por vezes, comem-se algumas coisas sem saber exactamente do que se trata.Às 8.30 lá estava a Joanna com o motorista no hall do hotel. Seguimos viagem rumo ao sul, junto à faixa costeira (mar amarelo, creio) durante cerca de 2 horas e tal. Percorremos pouco mais de150 km por estradas sinuosas, com passadeiras e motorizadas. Chegados a Xiangshan, uma zona industrial em que a principal actividade é a produção de roupa. Uma grande parte da roupa produzida na China é fabricada nesta zona. Emprega milhões de pessoas. É uma espécie de Minho do final do século XX cá em Portugal, elevado a 100. Milhares de fábricas compõem estes parques industriais. No meio lá estavam algumas fábricas de móveis que fomos visitar.Surpresa da viagem. Verdadeiramente surpreendente. Encontrei o fabricante de uma conhecida empresa portuguesa de importação de móveis, presença regular em feiras da especialidade e com um excelente naipe de produtos. Nem queria acreditar. No meio de centenas de milhar de fábricas e fabriquetas de móveis, coincidência do caraças, dar de caras com o principal fabricante desta empresa na China. Estamos a falar de um território com, aproximadamente, o tamanho da Europa. O mundo é mesmo muito pequeno. Na fábrica e após o proprietário se aperceber que eu era oriundo de Portugal, foi buscar um folheto dessa empresa e mostrou-mo. Percebi de imediato de que empresa se tratava e descrevi sinais exteriores do português que lá costumava ir, gerando um espanto geral entre todos. Vivemos numa pequena aldeia global. Após visitarmos a fábrica, o dono ofereceu o almoço numa marisqueira local.Uma das principais dificuldades é estar permanentemente à margem da conversa. A língua comum durante o almoço era chinês, obviamente, bem como em todas as conversas tidas com os locais. A Joanna Zhu traduzia-me o que lhe parecia relevante. Cheguei à conclusão que a nossa língua é mesmo algo muito importante. Sem a nossa língua estamos perdidos. A nossa língua é a nossa casa, é o calor do lar.Novamente espectacular. Nem sei bem o que comi, mas que era muito bom era e não pesou no estômago toda a tarde. De regresso a Ningbo apanhámos um ferry ao atravessarmos um braço de mar com uma paisagem mais próxima daquela que era o meu imaginário da China: Pagodes e uma zona mais verde e rural, com pequenas passagens pedonais entre os campos pintados do verde natural do arroz em crescimento. Passamos ainda por outro fabricante de móveis interessantes que nos convidou para jantar, às 5 da tarde. Népia, não havia fome. Jantar às 8.00, no mesmo restaurante, o tal dos 200 cozinheiros. Outra vez divinal, lulas salteadas, peixe branco cozido ao vapor, vegetais, vieiras com um molho espectacular, rebentos de bambú, melancia, tofu chinês e chá verde a acompanhar. Desta não me lixavam mais, café precisa-se. Desta não me enganam. Lá fui todo lampeiro ao bar do hotel, o tal do triplo abatanado com espuma branca.No percurso passei por cinemas e ainda pensei em ir ver um filme. Pensando bem o que é que iria fazer para um cinema chinês? Ouvir o Harrison Ford com sotaque Contonense? Ou a Madona a cantar em mandarim? Veio-me à ideia a minha infância e as sessões de Domingo à tarde, na União Recreativa e desportiva de Fontanelas e Gouveia, quando tínhamos “Índios e Cowboys”, “Polícias e Ladrões”, “Príncipes Valentes” e “Robins dos Bosques”, consoante a matiné, trazida por um funcionário do Grémio da Lavoura de Sintra, cinéfilo e cineasta amador, o Sr. José Maria, que nos tempos livres passava fitas no lençol do palco para gáudio da miudagem e pasmo dos adultos. Por vinte e cinco tostões de cinema e dez tostões de amendoins, passava uma tarde de domingo inesquecível.Vamos ao café. Frisei: ”Expresso coffee, Expresso, small cup, half, half, strong, double!” “Stlong, stlong?” “Yes!!!”, respondi. Mas por via das dúvidas lá fiquei à espera da porrada, não fosse a rapariga distrair-se. Desta é que foi, pensei. Bolas. Ao fim de quase uma semana na China e ainda não bebi um café em condições. Será tão difícil assim servir uma bica cheirosa? Foi buscar a chávena com cuidado ao balcão por detrás dela, pôs debaixo do bico da máquina e ligou. “ Yeeeeeeessssssssssss”. É isso mesmo. Boa. Consegui. “Água mole em pedra dura…” Vale a pena sermos persistentes, teimosos, nunca desistir do que queremos, exprimirmo-nos com convicção, por vezes um pouco mais alto para as pessoas perceberem... . Já está. Desligou e pôs-me o café à frente… com leite. Descobri de imediato o porquê da chávena estar virada para cima e ela a ter manejado com cuidado. Bolas. Já tinha lá o leite dentro.“Thank You”, um riso e um aceno com a cabeça e estás despachado.Cama...
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Continua…
Na China, por vezes, comem-se algumas coisas sem saber exactamente do que se trata.Às 8.30 lá estava a Joanna com o motorista no hall do hotel. Seguimos viagem rumo ao sul, junto à faixa costeira (mar amarelo, creio) durante cerca de 2 horas e tal. Percorremos pouco mais de150 km por estradas sinuosas, com passadeiras e motorizadas. Chegados a Xiangshan, uma zona industrial em que a principal actividade é a produção de roupa. Uma grande parte da roupa produzida na China é fabricada nesta zona. Emprega milhões de pessoas. É uma espécie de Minho do final do século XX cá em Portugal, elevado a 100. Milhares de fábricas compõem estes parques industriais. No meio lá estavam algumas fábricas de móveis que fomos visitar.Surpresa da viagem. Verdadeiramente surpreendente. Encontrei o fabricante de uma conhecida empresa portuguesa de importação de móveis, presença regular em feiras da especialidade e com um excelente naipe de produtos. Nem queria acreditar. No meio de centenas de milhar de fábricas e fabriquetas de móveis, coincidência do caraças, dar de caras com o principal fabricante desta empresa na China. Estamos a falar de um território com, aproximadamente, o tamanho da Europa. O mundo é mesmo muito pequeno. Na fábrica e após o proprietário se aperceber que eu era oriundo de Portugal, foi buscar um folheto dessa empresa e mostrou-mo. Percebi de imediato de que empresa se tratava e descrevi sinais exteriores do português que lá costumava ir, gerando um espanto geral entre todos. Vivemos numa pequena aldeia global. Após visitarmos a fábrica, o dono ofereceu o almoço numa marisqueira local.Uma das principais dificuldades é estar permanentemente à margem da conversa. A língua comum durante o almoço era chinês, obviamente, bem como em todas as conversas tidas com os locais. A Joanna Zhu traduzia-me o que lhe parecia relevante. Cheguei à conclusão que a nossa língua é mesmo algo muito importante. Sem a nossa língua estamos perdidos. A nossa língua é a nossa casa, é o calor do lar.Novamente espectacular. Nem sei bem o que comi, mas que era muito bom era e não pesou no estômago toda a tarde. De regresso a Ningbo apanhámos um ferry ao atravessarmos um braço de mar com uma paisagem mais próxima daquela que era o meu imaginário da China: Pagodes e uma zona mais verde e rural, com pequenas passagens pedonais entre os campos pintados do verde natural do arroz em crescimento. Passamos ainda por outro fabricante de móveis interessantes que nos convidou para jantar, às 5 da tarde. Népia, não havia fome. Jantar às 8.00, no mesmo restaurante, o tal dos 200 cozinheiros. Outra vez divinal, lulas salteadas, peixe branco cozido ao vapor, vegetais, vieiras com um molho espectacular, rebentos de bambú, melancia, tofu chinês e chá verde a acompanhar. Desta não me lixavam mais, café precisa-se. Desta não me enganam. Lá fui todo lampeiro ao bar do hotel, o tal do triplo abatanado com espuma branca.No percurso passei por cinemas e ainda pensei em ir ver um filme. Pensando bem o que é que iria fazer para um cinema chinês? Ouvir o Harrison Ford com sotaque Contonense? Ou a Madona a cantar em mandarim? Veio-me à ideia a minha infância e as sessões de Domingo à tarde, na União Recreativa e desportiva de Fontanelas e Gouveia, quando tínhamos “Índios e Cowboys”, “Polícias e Ladrões”, “Príncipes Valentes” e “Robins dos Bosques”, consoante a matiné, trazida por um funcionário do Grémio da Lavoura de Sintra, cinéfilo e cineasta amador, o Sr. José Maria, que nos tempos livres passava fitas no lençol do palco para gáudio da miudagem e pasmo dos adultos. Por vinte e cinco tostões de cinema e dez tostões de amendoins, passava uma tarde de domingo inesquecível.Vamos ao café. Frisei: ”Expresso coffee, Expresso, small cup, half, half, strong, double!” “Stlong, stlong?” “Yes!!!”, respondi. Mas por via das dúvidas lá fiquei à espera da porrada, não fosse a rapariga distrair-se. Desta é que foi, pensei. Bolas. Ao fim de quase uma semana na China e ainda não bebi um café em condições. Será tão difícil assim servir uma bica cheirosa? Foi buscar a chávena com cuidado ao balcão por detrás dela, pôs debaixo do bico da máquina e ligou. “ Yeeeeeeessssssssssss”. É isso mesmo. Boa. Consegui. “Água mole em pedra dura…” Vale a pena sermos persistentes, teimosos, nunca desistir do que queremos, exprimirmo-nos com convicção, por vezes um pouco mais alto para as pessoas perceberem... . Já está. Desligou e pôs-me o café à frente… com leite. Descobri de imediato o porquê da chávena estar virada para cima e ela a ter manejado com cuidado. Bolas. Já tinha lá o leite dentro.“Thank You”, um riso e um aceno com a cabeça e estás despachado.Cama...
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