sábado, 16 de dezembro de 2023

 


Tomar consciência da nossa finitude

Soube da morte do João Carlos e fiquei a pensar no que é a vida e a morte. O início da vida, o seu curso e o final, na maior parte das vezes inesperado e doloroso.

Bateu-me forte o facto de já ter presenciado o desaparecimento duma série de pessoas da minha geração. O Xiné, o João Pedro, o Falcão, o Sapina, o Tó-Pê, a Alice, o João Carlos e mais alguns que não tenho presente na memória. O pensamento leva-nos para a triste conclusão de que somos finitos, que haverá um dia que deixaremos de existir, que mais ninguém irá falar connosco, partilhar uma refeição, connosco viajar, rir, chorar, passear. O que fazer com as nossas roupas, os nossos pertences pessoais, os nossos sonhos, os nossos projetos? O que farão com os meus sapatos favoritos? Quem irá conduzir a nossa viatura e utilizar o nosso computador? Será para sempre ou temporária, essa nossa ausência? Queremos que seja temporária porque não concebemos, nem conseguimos compreender, ser para todo o sempre.

Tudo irá cair num vazio difícil de imaginarmos enquanto cá estamos.

Na nossa cabeça e enquanto cá estamos fisicamente, aproveitando para dizer que não acredito em qualquer outra forma de existência, achamos que nunca iremos desaparecer, que nunca deixaremos de sentir o ar, o calor, o frio, as pessoas que nos rodeiam. Não conseguimos imaginar que um dia a coisa se finda, que iremos morrer e seremos eliminados das ruas da nossa aldeia, que seremos enterrados ou cremados. Negamos essa possibilidade face à sua difícil compreensão. Não conseguimos conceber, compreender, imaginar, uma ausência de futuro. Não conseguimos imaginar o que será a nossa não existência para todo o sempre.

Foi-nos sendo dito, ao longo da nossa vida por pessoas que acreditam ter uma vida para além da morte, que iremos para um outro local onde se dará continuidade à nossa existência terrena, numa crença elaborada para não darmos em loucos, para haver uma lógica existencial e assegurarmos que esta sequência lógica faz sentido, que depois desta “fase terrena” haverá outra melhor, num cenário idílico propício à continuação da nossa vida. Também é certo que esse cenário é criado para se poderem vender pedaços de céu, para que pessoas tenham poder sobre outras pessoas e para que se possa, numa lógica fatal de egos humanos, exercer poder sobre outrem e assegurar a sua submissão através do medo e da culpa. Essa é a lógica das religiões, sejam elas quais forem. Homens a exercer poder sobre os demais, fazendo-nos crer que o Homem foi criado por um Deus omnipresente, omnipotente e omnisciente, e não que esse Deus, castigador e perdoador, foi criado por Homens à sua imagem, num fato por medida em função do tempo, da geografia e das culturas locais.

A idade torna-nos permeáveis a estas questões, já que, ao ver partir pessoas na nossa geração, sentimos que mais tarde ou mais cedo, invariavelmente, chegará a nossa hora para todo o sempre, sem que possamos nada fazer nem decidir. Isso é, realmente, de difícil entendimento: Desaparecer para todo o sempre. Apenas e somente, puf. Desaparecemos da mesma forma que chegámos. Apenas e só algumas emoções e obras deixadas, sem nada connosco conseguirmos levar, porque de nada iremos usufruir após o suspiro final.

Boa Vida a todos e usufruamos enquanto pudermos, deixando as melhores emoções possíveis e as melhores obras possíveis, para que os seguintes tenham as melhores emoções possíveis, enquanto cá estão.

Boas Festas.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

31 de Maio - Dia Mundial Sem Tabaco

 

O dia 31 de Maio é o Dia Mundial Sem Tabaco.

Este dia tem um forte significado para mim. Como fumador em tratamento há mais de dezassete anos, tem sido uma luta constante, diária e persistente. De um lado o vício, envolvente, reconfortante, dependente, aconchegante, cheio de memórias ligadas aos 25 anos de fumo. Do outro lado a dolorosa realidade dos malefícios de pormos à boca veneno legalizado e altamente socializado. Os rituais que faltam, os lugares que lembram o fumo, as ações que “casam” com o tabaco, tudo isto compõe e complementa o vício social e o prazer de fumar.

A dor física é dolorosa durante alguns dias e o desprazer de não fumar ficará para o resto da vida. Durante anos (mais de dez) sonhava que já fumava outra vez e, quando não acordava pelo transtorno causado no sonho, ficava com o sono transtornado e tumultuoso. Os sonhos variavam. Por vezes sonhava que já fumava outra vez e reagia durante o sonho com incredulidade, revolta ou zanga. Outras vezes, sem chegar a acordar completamente, tomava consciência, dentro da inconsciência do sonho, que estava a sonhar e a coisa aquietava. Outras ainda encarava a coisa de forma zen, embora sempre admirado pelo facto de já fumar outra vez, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Passados mais de dezassete anos olho para trás e, apesar do esforço despendido, posso afirmar que valeu a pena. O malefício que causamos a nós e aos outros é incompreensível. Só o prazer de fumar (e o desprazer e medo) e a dificuldade em deixar, faz com que os fumadores aceitem e encarem o vício de fumar como a coisa mais natural do mundo, contornando com sucessivas desculpas.

Uma coisa te garanto. Se tiveres que deixar de fumar e quiseres, consegues. Se tiveres que escolher entre o tabaco ou um interesse maior, tenho a certeza que saberás escolher.

Para um fumador em tratamento, é perfeitamente possível viver sem fumar.  

domingo, 1 de novembro de 2020

O Poço do Largo de Fontanelas




O Poço do Largo de Fontanelas

Desde miúdo que convivo com o Poço do Largo de Fontanelas, aquela construção cilíndrica no centro da aldeia. A construção deste equipamento público remonta à época em que a água não vinha da torneira e existia dificuldade no seu armazenamento. Ter um poço com água era um luxo a que poucas famílias se podiam dar, pelo que os poços comunitários representavam uma solução para as necessidades da população e seus animais.

Estes poços tinham junto a si uma talha de pedra para que os animais de quatro patas pudessem beber a água captada nas suas profundezas. No Poço Novo, na rua com o seu nome, ainda é possível ver uma dessas pesadas talhas de pedra.

Outra das particularidades desses poços era a pedra frontal que servia de proteção a quem deles se servia. Essa pedra tinha rasgos arredondados na parte superior. Os baldes de água cheios eram puxados à mão com a ajuda da pedra polida que servia de meia roldana. Com os sucessivos anos, essa pedra ia-se desgastando pela fricção da corda na sua superfície, criando sucessivos rasgos polidos característicos destes poços.

Há alguns anos atrás, por questões de falta de uso e necessidade, ainda se falou em demolir o velho poço do largo. Alguém com consciência impediu que tal acontecesse. Se por decreto não foi demolido, quase que o foi quando um condutor mais distraído lá desfez o carro, chocando  com pia lateral.  A mesma sorte não teve o seu homólogo do Largo da Nogueira já que foi demolido e aterrado. Tornando-se obsoleto face ao desuso instalado, alguém achou por bem dar-lhe umas marretadas e enche-lo de entulho. Mata-se o bicho, acaba-se com a peçonha.

O Poço do Largo era um centro de brincadeira para os miúdos juntamente com o Coreto e a Cruz, seus vizinhos de longa data. Esta brincadeira passava, para alguns dos mais afoitos e ágeis, por idas regulares às suas profundezas, descendo e subindo pelo tubo metálico lá instalado. No meu caso apenas me ficava pelas vistas cá de cima, já que a minha condição de anafadinho não me permitia veleidades deste tipo. Recordo-me de um belo dia um dos miúdos, num rasgo de afoiteza iluminada, lá desceu pelo tubo. Depois de algumas tentativas mal sucedidas para subir e de uns choricos à mistura, alguém foi buscar uma corda para puxar o destemido. Antes da colocação da grade era esconderijo obrigatório para a miudagem brincar às escondidas, servindo a pia interior de perigoso esconderijo improvisado.

Tenho a certeza que a água deste poço tinha propriedades milagrosas, embora falte a confirmação científica. A sua água serviu, até aparecer liquido mais certificado, para encher a pia da igreja onde os devotos molhavam os dedos antes de os levarem à testa em ato de benzedura. Ainda hoje estou para perceber como é que simples água de um poço de Fontanelas, que mal vem no mapa de Portugal, tinha tais propriedades milagrosas.

Também este poço tem uma história de outro tipo de brincadeira para contar. Sem lhe pedirem autorização, meia dúzia de rapazes e raparigas colocaram uma coluna de som no seu interior, ligando um cabo comprido ao leitor de cassetes estrategicamente colocado na janela do Camacho´s. Corria o ano de 1988 e estávamos no Carnaval. Ninguém estranhou que andassem a abrir uma pequena fenda no solo, suficiente para passar um cabo de som, desde a janela do Camacho´s até ao poço, ainda o largo estava em terra batida. Uma saca de rede das batatas serviu, juntamente com um cordel da roupa emprestado por um vizinho, para pendurar a coluna de som dentro do poço a 5 metros de fundo, suficiente para não ser detetada à primeira vista e causar o efeito desejado, com eco e tudo. Estava montado o cenário. Foi gravada a cassete com a mensagem. Junto à hora da missa e com o afluxo de pessoas à capela: “Play”.

“Tirem-me daqui, caí cá dentro do poço. Acudam, acudam.”

“Tirem-me daqui, caí cá dentro do poço. Acudam, acudam.”

É feio acusar alguém mas acho que a voz era do Janeca.

Não me recordo se atrasou a cerimónia religiosa ou não. Se chegou a vir a GNR ou não. Se o padre ainda interveio ou não. Que gerou um burburinho e um desassossego medonho, gerou. Mas também causou uma gargalhada geral nas pessoas que se juntaram para presenciar mais uma partida de carnaval no largo de Fontanelas.

Viva o Poço do Largo de Fontanelas!!!


sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O Posto do Leite


      

O Posto do Leite de Fontanelas



Alguns lembrar-se-ão, certamente, do Posto do Leite. 

O Posto do Leite de Fontanelas era um dos postos de recolha de leite da UCAL (União das Cooperativas Abastecedoras de Leite de Lisboa). Estava localizado na esquina da Av. Nossa Senhora da Esperança com a Rua Fria, onde é atualmente a churrasqueira, no quarteirão mais central de Fontanelas. Foi, durante largas décadas, o ponto de encontro de uma vasta faixa da população da aldeia de Fontanelas, rivalizando com a taberna do Semião, com a mercearias das ratas e da viúva e com as respetivas padarias. Ali se juntavam, de manhã e à tarde, homens, mulheres e crianças que vinham trazer leite ao posto, num interminável vaivém diário, carregando as bilhas metálicas remendadas vezes sem conta pelo Zé Funileiro. 
À data, quase toda a produção de leite de Fontanelas era vendida à UCAL. A recolha era feita duas vezes por dia e através dos diversos postos estrategicamente espalhados pelas aldeias. 
A economia rural de Fontanelas muito dependia do desempenho das vacas que proporcionavam um rendimento diário em dinheiro vivo. Era o pé-de-meia fixo de muitas famílias, essencial para mandar os filhos à escola, comprar “quartas” de café, comprar leitões para engordar e fazer a excursão anual à Feira dos Alhos na Ericeira. Era um rendimento limitado mas fixo, ajudando sucessivas gerações a equilibrarem o deve e haver familiar.
O leite era recolhido dos animais manhã cedo, com ordenha manual, junto às sete da manhã e à tarde, perto das 17h00. Cá em casa havia um vaqueiro, a pessoa encarregue de tomar conta do gado de curral, quer fossem bovinos, caprinos ou jumentos. Estava proibido de limpar as teias de aranha do teto, já que estas protegiam de forma ecológica o equilíbrio da fauna local, nomeadamente moscas, moscardos e mosquitos. As teias de aranha encarregavam-se de limpar a bicharada indesejável que prejudicava o bom funcionamento da vacaria. Chamava-se Francisco Joaquim Castelhano, mais conhecido por Chico Castelhano e tinha também a seu cargo a tarefa de ordenha e entrega no Posto. Quando, por qualquer motivo, o Chico Castelhano não podia, avançava a segunda linha na entrega de leite no posto: Carlos Camacho, eu mesmo. Bastas vezes levava a bilha à mão pela Carreira Castelhana, percorrendo o caminho trocando de mão a pesada bilha do leite. Ia para a fila e aguardava a minha vez de ser atendido, como mandavam as regras. O Posto do Leite tinha, permanentemente, o chão molhado, consequência das permanentes lavagens a que era sujeito duas vezes ao dia. Tinha também um cheiro próprio emanado do manuseamento e armazenagem de grandes quantidades de leite, proporcionando ao espaço um odor característico do lei cru, ainda morno, que lá era manuseado.
As mulheres vinham mais à pressa trazer o leite e algumas, sempre as mesmas, tentavam furar a fila alegando ter comida ao lume, uma criança a berrar ou uma vitela a nescer. Tinham os filhos para cuidar e a lida da casa para fazer, antes de irem para o amanho das terras. Já os homens tinham todo o tempo do mundo. Aí se falava da seara da “Dona Maior” ou do batatal do “Jonal”, passando pelas hortas dos “Caniçais”. O tempo era sempre motivo de esclarecido diálogo, aludindo às previsões meteorológicas do noticiário das sete. 
“O vento virou à serra (sul), vai chover”. Dizia o Domingos “Carrombão”.
Rematava o Fernando “Careca”, funcionário encarregue do Posto do Leite que recebia e media o leite: “Quando Deus Nosso Senhor queria, até de Norte chovia.”
“Uma pinga de água dava jeito para puxar pela uva. Se não chover o bago não cresce” dizia o Carlos da Caracola.
Já o “Ré-Ré” dizia à boca cheia que preferia pinhais a vinhas. “Está um homem na cama e está o pau a crescer. As vinhas dão muito trabalho.”
Depois de deixarem o leite no posto, era visita obrigatória a taberna do Semião. O “Cai-bem”, nome dado a uma mixórdia vendida na Taberna do Semião, era a pinga de eleição nas frescas manhãs de Fontanelas. 
O posto do leite era ainda um local de brincadeira e boa disposição. À cabeça dessa boa disposição reinava o Domingos Carrombão, conhecido pela acutilante e bem-humorada forma de expressão. Na altura em que a Sra. Maria José lá trabalhava perguntou-lhe o Domingos Carrombão, a jeito de brincadeira:
“Oh Sra. Mar Zéi. Se você visse as minhas calças a cair e as suas sais a cair também, o que é que você levantava primeiro?”
“Levantava as minhas saias primeiro, claro” respondeu a Sra. Maria José.
Rematou o Carrombão: “Era mesmo à conta”.

E assim era o Posto do Leite de Fontanelas.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Quem são os Grunhos?



Quem são os Grunhos?
 
Muito se tem falado de Grunhisse (forma de estar dos irresponsáveis, broncos, rudes, grosseiros, inconscientes) a propósito das constantes pândegas envolvendo numerosos grupos de jovens e não só.
Poderemos chamar Grunhos aqueles que se estão totalmente a marimbar para o COVID e para a forma como se poderão contagiar e, por consequência, contagiar todos os que estiverem em seu redor?
Poderemos chamar Grunhos aqueles que, por dá cá aquela palha, ofendem tudo e todos nas redes sociais ao abrigo do anonimato ou no resguardo de uma distância segura de um ecrã de computador ou telemóvel?
Poderemos chamar Grunhos aqueles que estragam, derrubam ou simplesmente pintam estátuas de ilustres figuras históricas de qualquer povo, alegando que a memória não poderá permitir que se continue a venerar figuras opressoras de outros tempos (ou por qualquer outra razão)?
Poderemos chamar Grunhos aqueles que, em nome de uma causa, de uma data, da igualdade de género, do racismo, da sua etnia ou da exclusão social, cometam “grunhices básicas” como não respeitar o distanciamento numa qualquer manifestação pró ou contra “o que quer que seja”.
Poderemos chamar Grunhos a acéfalos seguidores de teorias fascistas ou totalitaristas que emergem numa de “isto é tudo uma cambada de ladrões, só lá vai com uma ditadura”, fazendo tábua rasa de conquistas básicas como a liberdade de expressão que, ironia do destino, lhes permite bolsar tais impropérios?
Poderemos chamar Grunhos aqueles que, de forma violenta e barulhenta, ofendem, provocam e geram conflitos por dá cá aquela palha, em qualquer estrada do país?
Poderemos chamar Grunhos aqueles que provocam acidentes, atropelando, batendo, matando, estropiando, só porque são irresponsáveis ao ponto de conduzirem uma arma mortífera, como um automóvel, a velocidades alucinantes na via pública?
Poderemos chamar Grunhos ao pessoal que, de forma totalmente irracional, provoca, agride e ofende o seu semelhante só porque este não veste a mesma cor futebolística, partidária ou religiosa?
Poderemos chamar Grunhos aqueles que acreditam que um ser omnipresente, omnisciente e omnipotente comanda todo o universo e que caberá a alguns seres humanos, devidamente paramentados, imbuídos e doutrinados por outros que tais, a interpretar essa vontade e aplica-la na Terra, nem que para isso fomentem guerras e contendas em seu nome? (A julgar pelo resultado, a mensagem ou a interpretação tem defeito. Algo nesta cadeia de comando tem falhado).   
Poderemos chamar Grunhos aqueles que não acreditam que seres omnipresentes, omniscientes e omnipotentes comandam o universo?
Poderemos chamar grunhos aos seres humanos que fazem orelhas moucas aos avisos do envenenamento da alimentação, ao perigo dos alimentos processados, à degradação permanente do meio ambiente, da poluição dos rios e dos oceanos, etc?
Poderemos chamar grunhos a todos aqueles que não respeitam todos os seres vivos, sejam eles animais ou plantas?
 
 
Afinal, quem são os Grunhos???
 
Já que para o Grunho a Grunhice é difícil de detectar, poderemos dizer que, se calhar, todos temos, de grunho e louco, um pouco.

Será?


terça-feira, 12 de maio de 2020

Devo estar a ficar “xé-xé da marmita”


        

Devo estar a ficar “xé-xé da marmita”.

Confesso que estou a ficar contagiado por um vírus instalado no Facebook.

Dá-me ganas de esbofetear e chamar nomes a algumas pessoas. Pronto, pá. Fico fora de mim, sem controlo. Devo estar a perder as faculdades mentais do bom-senso, da educação, da cordialidade e do bom viver. Não me recordo de ser assim, ou então a branca barba está-me a contaminar o cérebro.  Este contágio noto-o sempre que me dedico à leitura de alguns posts ou comentários, nomeadamente aqueles em que o criador (do comentário ou do post), procura, da forma menos aconselhada, os 5 minutos de fama a que, supostamente, todos nós temos direito. Mas bolas, que sejam por um motivo enaltecedor e meritório, pela positiva, valorizando o seu interlocutor e procurando o bem-estar alheio.

Este vírus fica latente sempre que me afasto das leituras facebookianas. Mas eis quando, na diagonal, leio algum fel destilado, quiçá fruto dalgum confinamento forçado ou dum cônjuge mais pressionante, e escarrapachado na página azulada deste moderno “correio da manha” (manha, não manhã), lá volta a revolta interna e as ideias menos sãs.

Seja por animais, árvores, praias, fotos ou outra qualquer coisa, por favor contenham a verborreia, sob pena de eu ficar contaminado de vez. Tenham pena de mim e de todos os que, de forma aleatória, somos apanhados na curva das leituras facebookianas. Tudo é motivo para acesas disputas, ofensas gratuítas e jocosos impropérios. Bolas!!!

Ah, mas estava-me a esquecer!!! Voilá!!! Eureka!!! Há sempre a velha possibilidade de bloquear quem nós não queremos “aturar”. Ahhhhhhhh…..

Para chegar a este ponto, estou mesmo a ficar contaminado com o tal vírus do Facebook. Para que não fiquem também contaminados, o melhor mesmo é bloquearem-me, se acharem que mereço!!!  

Puf...   


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Trauma do 19



Covid 19
Mas que trauma!!!Pasme-se que até o Outlook na caixa de “draft” que tem “19” emails pendentes de finalização me deixou alerta. Ohpss: “19” no meu computador??????
Incomodou-me! 
Soube há pouco que até o Ti Joaquim Marreco, nascido em Janeiro de 1919 em Fontanelas, logo após o armistício da 1ª Grande Guerra e ainda de tino perfeito disse, recentemente, quando alguém lhe perguntou a idade, que nasceu logo a seguir ao final de 1918, omitindo o ano de nascimento e disfarçando o trauma do “19”.
Também os hipermercados na Holanda decidiram, em conjunto, eliminar das suas linhas de caixa o número 19, passando do 18 para o 20. Ele há coisas!.....
A conhecida colunável Mafalda Bobone de Andrade Vasconcelos e Lima Resende, residente num “piqueno” apartamento no 19º andar do edifício Navegador, em Cascais, colocou-o à venda em vinte e três imobiliárias, sete porteiros, dez merceeiros e doze tias amigas, numa desesperada tentativa de se ver livre de tal possidónio estigma. Já o vizinho do mesmo andar, apesar de chinês, acha que o quarto andar é que “não plesta”.
O conhecido jogador de futebol do Tottenham, Dembélé, titular da camisola “19”, anunciou publicamente que não quererá mais usar este número, tal a aversão. Solidariamente, Sadé, o seu colega do Manchester City e também titular do mesmo número, decidiu mudar para o “20”, não vá o diabo tece-las. Antes, já o Eliseu e ex titular da camisola 19 no Benfica, tinha decidido apagar todas as fotos do seu Facebook onde envergava tal número agora caído em desgraça. Temos o caso do guarda redes da União de Leiria, camisola 1, Tó Marcelo, travou-se de razões com o Fabiano, colega de equipa e titular da camisola 9, porque não se queria sentar a seu lado. Segundo ele “Quero azar, não.” “1 mais 9 dá Dezanove”.
Tenho a certeza absoluta que o bar de um clube de golfe ali para os lados do Estoril, “19th Hole” de seu nome, após esta bicheza passar irá, certamente, mudar de nome.
Da minha parte, estou a pensar seriamente em mudar a minha data de nascimento, passando de 1964 para qualquer coisa 2000 menos 36. Bem vistas as coisas também tenho um dezanove associado.
É que homem prevenido vale por dois.

sábado, 21 de março de 2020

Hoje a caminho do trabalho



Hoje a caminho do trabalho vi espaços da estrada vazios de gente recolhida. Notei a falta de movimento nos cruzamentos da vida. As ruas desertas de pessoas e bens, reflexo do medo contido e da incerteza instalada.
Hoje de manhã a caminho do trabalho, notei que a falta da viatura mal estacionada antes da passadeira na Várzea de Sintra, das pessoas a caminharem na estrada e da esplanada ocupada no café da esquina, me fizeram falta.
Hoje de manhã a caminho do trabalho, notei mais os pormenores do percurso, os detalhes da rua e a falta do movimento das pessoas. Afinal sou, certamente, um animal social.
Hoje a caminho do trabalho tomei consciência de que o ar que respiro não é um dado adquirido gratuito, que o chão que piso tem um preço a pagar e a minha liberdade vale mais do que eu realmente pensava.
Hoje a caminho do trabalho, valorizei muito a rádio que ouvia, o ar que respirava, a roupa que vestia e a liberdade de me poder deslocar livremente, de casa para o trabalho.
Hoje a caminho do trabalho, valorizei muito mais a chuva que caíra na madrugada, ajudando a limpar, do ar e da mente, uma neblina sobrecarregada de partículas poluentes que nos vai intoxicando.
Hoje a caminho do trabalho, senti que estava vivo e agradeci, não sei a quem ou a quê, porque ainda podia ir hoje, a caminho do trabalho.

CCamacho-20-03-2020

domingo, 8 de março de 2020

Semelhanças Improváveis



Semelhanças Improváveis

Há umas semanas atrás cruzei-me com o Mestre Judoca Sintrense Renato Santos Kobayashi nos “corredores” do Facebook, no grupo Liceu de Sintra Comemorações. Enquanto ex praticante da modalidade, ocorreu-me que existem muitas semelhanças entre um judoca e um consultor imobiliário. Muitas mesmo. Ora vejamos.
Comecemos pelo princípio do Judo. Aprender a cair. O judoca no início aprende a cair e a levantar, literalmente. Mas sobretudo na sua ascensão competitiva também terá que aprender as “quedas” emocionais das derrotas, dos desaires competitivos, dos momentos de desilusão e desalento, singular e coletivo, dos momentos de incerteza e ansiedade. Será que a sua prestação será suficiente para vencer? Será que treinou o suficiente? E as lesões? Se houver lesão e uma paragem de meses? Tão importante como aprender a cair é conseguir levantar-se, “queda após queda” emocional.
Vejamos o consultor imobiliário. O processo das “quedas” emocionais está garantido. Começa no desconhecimento total do mercado, na falta de capacidade para rebater objeções com os proprietários, nas mudanças de vontade dos proprietários e compradores, nos sucessivos problemas burocráticos e legais associados à venda de um imóvel, etc, etc. Este Carrossel emocional é uma constante. A incerteza da conclusão do negócio depois de tanto trabalho, quando o negócio não se conclui por motivos vários quer seja porque não treinamos o suficiente ou, simplesmente, por fatores alheios à nossa vontade e que não controlamos, acontecem, digamos que o equivalente à “lesão” do judoca ou ainda, numa grande parte dos casos, porque deparamo-nos com adversários mais fortes que nós e nos levam de vencida.
Outra situação semelhante. Qualquer judoca compete sozinho. Na hora da verdade está, fisicamente, sozinho na competição em frente ao seu adversário. Depois de aprender com o mestre terá, obrigatoriamente, que treinar com alguém. Não se treina sozinho no judo. Na mediação imobiliária, o consultor está, no seu dia-a-dia, sozinho no terreno, depois de ter aprendido com alguém e treinar com a sua equipa da agência, com os colegas. Ou seja, aprende-se com os outros e treina-se com os outros mas a atuação é “a solo”. O desempenho final é connosco. Não podemos contar com a nossa equipa nos momentos decisivos do dia-a-dia.
Outra semelhança. Foco e Crença. Ambos terão que nunca pôr em causa o seu êxito. No dia em que a crença desaparece e a dúvida se instala, acabou-se. O êxito nunca se põe em causa. O sonho para ser real terá que ser real no dia-a-dia, com muito foco e sem vacilar. Como aquela máxima: Se acreditares que és capaz, serás capaz. Se acreditares que não serás capaz, não serás capaz. Terás sempre razão qualquer que seja a tua crença. Tens que acreditar em ti e no que és capaz.
Disciplina, Rotina e Treino são fundamentais em ambos os casos. Nem consultores imobiliários, nem judocas conseguirão vingar sem respeitar estas premissas. Cada um faz a sua própria sorte ou o seu próprio azar, em função da sua Disciplina, Rotina e Treino. Nada acontece por “obra e graça” e tudo acontece em função do rigor aplicado no dia-a-dia. Estes são também os ingredientes necessários para que, em ambos, exista superação e sucessivas barreiras derrubadas.
Em suma, tanto no judo como na mediação imobiliária, o fator chave é a capacidade intelectual, condição “sine qua non” para ter êxito. Por melhor condição física que tenha, de nada valerá se não forem seguidas as regras supra mencionadas.
E depois de ter pensado nisto tudo, convidei o Mestre Renato Kobayashi para uma palestra, que  aceitou de bom grado, na Convenção 2020 da 2easy. E valeu a pena escutar uma história de vida contada na primeira pessoa de forma emotiva e muito interessante. Nas palavras do Mestre Renato Kobayashi ainda existe um outro fator associado ao êxito. Temos que seguir tudo “by the Book” e ainda aplicar algo nosso, algo inovador e “fora da caixa”. Tal qual como na mediação imobiliária.
Um grande obrigado ao Mestre Renato Kobayashi pela sua presença e generosidade.

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