Este excerto faz parte de um texto escrito em 2009, altura em que comecei a registar por escrito algumas coisas sobre a minha adolescência e juventude.
"Mais
ou menos nessa altura (1981) iniciei as minhas lides de radialista na escola
Secundária Santa Maria (Liceu de Sintra). O GAC (Grupo de Acção Cultural) promoveu uma iniciativa
a que eu aderi e que tinha por objectivo proporcionar aos alunos uma
experiência com a rádio, dando a possibilidade de desenvolver um programa a
passar dentro da escola. Brilhante. Comecei a desenvolver o meu programa.
Chamei-lhe “Beatlemania” e tal como o genérico indicava, era totalmente
composto por “Música do mais famoso grupo rock de todos os tempos: The
Beatles”. Foi-me atribuído um horário de meia hora por semana, às
quartas-feiras, das 13h15 às 13h45. Gravava as cassetes em casa num velho
gira-discos e entregava-as, pontualmente, todas as terças-feiras. Utilizava um
tom de voz bem ao jeito do melhor “Rock em Stock” do Luís Filipe Barros, com
voz colocada e timbre agudo, para contrastar a falta de qualidade das cassetes
fanhosas, gastas pelas sucessivas gravações, juntamente com frases feitas entre
músicas já que não havia mesa de mistura. Construí um guião para que não me
faltassem as palavras a meio da gravação (era fácil engasgar) e também para
conseguir manter um discurso coerente ao longo do programa. Falava da origem do
grupo, dos temas das canções, dos autores da música e da letra e das datas
relacionadas com a produção dos LP’s. Por questões de logística nunca tive
nenhum “Talk-Show”, já que o aparelho de gravação não vinha a Sintra nem o
convidado ia a Fontanelas, como foi o caso em que quis ter a preciosa
colaboração de uma professora de Inglês. Não havia dinheiro para cassetes novas
logo, depois de preencher a velha TDK dos dois lados, regravava por cima do
programa anterior e era sempre siga, até acabarem os LP’s dos Beatles e esgotar
a matéria-prima. Ainda usei mais do que uma TDK (que eram as melhores à época)
por força do desgaste na fita magnética, imposto pelas sucessivas gravações. O
processo era simples sob o ponto de vista técnico, já que os aparelhos de
alta-fidelidade do final dos anos setenta faziam gravação directa do gira-discos
para o leitor/gravador de cassetes, bastando conjugar o início do disco com o
início da cassete e deixar gravar ininterruptamente, caso não houvesse mesa de
mistura, como era o caso. O meu programa de rádio era dos mais ouvidos mas, provavelmente,
dos menos escutados. As colunas de som que emitiam estavam colocadas na cantina
da Escola e a audiência era maioritariamente constituída por alunos e
professores que iam almoçar e enchiam a cantina à hora de almoço. A juntar ao
som dos talheres, pratos, tabuleiros e demais “hardware” de almoço, lá
conseguia descortinar um som parecido com o “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”, música
do genérico que iniciava o programa, misturada com latidos dos cães de caça que
caracterizam aquela faixa. Eu era, incondicionalmente, o melhor ouvinte do
Beatlemania e no meu canto lá absorvia com espírito crítico as músicas e frases
feitas ouvidas e reouvidas em busca da perfeição, fazendo figas para que
fizessem um pouco menos de barulho e partilhassem comigo aqueles 30 minutos. De
pouco valia porque, àquela hora, alimentavam-se outras necessidades que não a
cultura musical dos presentes.
Recordo com alguma saudade, à distância de quase 30 anos, estes tempos e várias vezes me tenho questionado se ainda restará alguma cassete que tenha sobrevivido às razias feitas aos trastes lá de casa."
Mais um Flashback.
Camacho, pois era assim mesmo que nos enfiávamos lá no cubículo e metíamos as cassetes no ar para a sala de convívio. "Vai lá abaixo ver se o som está bom..." ;) foi um espectaculo bem divertido principalmente para nós ahaha
ResponderExcluirEra mesmo um espetáculo para nós.! A sala do GAC era no pavilhão de química ou ao lado da cantina, certo? Lembras-te em que ano foi? 10º, 11º?
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